domingo, 25 de dezembro de 2011

Textos sobre a crise de 2005

O texto abaixo, da jornalista Rosana Ramos, foi publicado na edição de abril do jornal Página 13. Ele serve de introdução aos próximos textos que este blog divulgará, acerca da crise de 2005.


Abril quente

Entre os dias 8 de abril e 13 de maio, as principais tendências do PT decidirão quais rumos irão tomar no processo de eleição das direções partidárias, cujo desfecho está marcado para 18 de setembro de 2005.
O auto-denominado Campo Majoritário é o primeiro a se reunir, nos dias 8 a 10 de abril, no Rio de Janeiro. Embora com descontentamentos (localizados, é bom que se diga, nos setores mais duros), José Genoino deve ser indicado candidato a presidente nacional do PT. A expectativa, portanto, está em saber com que métodos e com que programa o campo majoritário atuará no PED.
Quanto aos métodos: trabalhará para termos um grande debate político ou tentará transformar o PED numa grande prévia, em que os filiados só terão contato com o debate na fila de votação? Trabalhará para que todas as candidaturas tenham iguais condições ou estimulará a busca de recursos extra-partidários para financiar os gastos de sua chapa e candidatos?
Quanto ao programa, a dúvida está no seguinte: o campo majoritário vai propor que o programa mínimo do governo federal seja transformado no programa máximo do Partido, ou manterá as formulações tradicionais do PT?
O Movimento PT é o segundo a se reunir, nos dias 16 e 17 de abril. Formado por um grande número de mandatos parlamentares, inclusive o de Virgílio Guimarães, o Movimento PT era tido pelo “campo majoritário” como um possível aliado, aliança que afastaria qualquer risco da atual maioria virar minoria.
Aparentemente, está afastada a hipótese de uma chapa comum com o “campo majoritário”. Aparentemente, também, o Movimento PT terá candidato à presidência nacional do Partido. A dúvida está em saber com qual linha programática o Movimento PT participará do PED.
Em 2001, quando seu candidato a presidente nacional era Tilden Santiago, hoje nosso embaixador em Cuba, o Movimento PT optou por criticar os métodos do “campo majoritário”, pouco dizendo sobre sua política – quando não defendendo posições iguais ou até mais moderadas. É provável que, com nuances, isso se repita. Afinal, uma das principais lideranças do Movimento PT, Virgílio Guimarães, é conhecido por seu governismo. E outra liderança, Arlindo Chinaglia, foi alçado à condição de líder do governo na Câmara dos Deputados (alteração positiva, é bom que se diga).
Independente da linha, a tendência é que o Movimento PT saia fortalecido deste PED. O que pode ser positivo para a esquerda partidária, pois nos ajudará a transformar a atual maioria (que tem 52% do Diretório Nacional) em minoria, possibilitando que a direção do Partido deixe de tomar decisões com base na maioria presumida. Dependendo de quem for sua candidatura à presidência nacional, o Movimento PT pode colaborar, também, para que haja segundo turno na disputa da presidência.
No feriado de 21 a 24 de abril, finalmente, será a vez da Conferência Nacional da Democracia Socialista. Esta Conferência é aguardada com muita expectativa, pois é público que a DS possui, no seu interior, divergências muito profundas sobre o governo Lula, sobre o PT e inclusive sobre a própria DS. Há quem defenda, até, que a DS atue tanto no Partido dos Trabalhadores quanto no PSOL. Esta é a posição, por exemplo, da “IV Internacional” (melhor dizendo, da organização internacional de que a DS faz parte); ainda segundo esta organização, a DS deveria entregar os cargos que ocupa no governo Lula.
Todas as informações de que dispomos são de que estas posições pró-ruptura com o governo Lula e com o PT são minoritárias na Democracia Socialista. Se for assim, a conclusão do debate permitirá acelerar os entendimentos entre a Articulação de Esquerda e a Democracia Socialista, em torno de uma chapa e de uma candidatura única para a disputa nacional do PED.
Para discutir esta questão, os signatários da Carta aos Petistas e às Petistas marcaram duas importantes reuniões: no dia 11 de abril, com a Ação Popular Socialista; e no dia 5 de maio, uma reunião plenária nacional da Carta aos petistas e às petistas.
A reunião com a APS é particularmente importante, pois os companheiros desta tendência optaram por não assinar a Carta, propondo como uma de suas emendas a retirada do parágrafo da Carta que fala em buscar a unidade da esquerda petista, no processo de eleição das direções partidárias.
Fechando o ciclo, no dia 13 de maio a Articulação de Esquerda fará uma plenária nacional, para deliberar sobre a tática da tendência no PED. Até lá, a tática da tendência é aquela aprovada na VII Conferência Nacional: buscar a unidade da esquerda petista e apresentar ao Partido uma pré-candidatura à presidência nacional do PT.
Desde dezembro, Valter Pomar, pré-candidato da AE à presidência nacional do Partido dos Trabalhadores já participou de atividades no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Pernambuco e Distrito Federal. Nas próximas semanas, cumprirá uma programação de debates e contatos com a militância em vários outros estados.

Rosana Ramos é jornalista.



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