O deputado José Guimarães é um defensor de primeira hora da federação.
E um entusiasta da “frente ampla”, não apenas no país mas também em seu estado, o Ceará, onde é um dos principais responsáveis (até agora) pela manutenção da aliança com os Ferreira Gomes.
Sendo assim, Guimarães deve ter ficado bastante desgostoso com a entrevista de Siqueira à Folha de S. Paulo.
Afinal, mesmo que o objetivo de Siqueira fosse apenas conseguir
mais concessões da parte do PT, a forma como ele agiu – pública e desrespeitosamente
– causa muitos problemas.
Compreende-se,
portanto, o tom da rápida resposta dada por Guimarães (ver a integra ao final):
“nós não fomos procurar nenhum desses partidos para fazer federação. Nós
iniciamos o debate a partir da solicitação deles, e não tem nada definido.
Portanto, se um dos partidos discorda de uma ou outra tese do PT, se discute
isso internamente. O PT não vai resolver nada das federações pelas páginas de
jornais ou recebendo pito desse ou daquele partido. O PT tem história, tem
maturidade. Esse tipo de posição do presidente do PSB não ajuda, só atrapalha,
e complica fortemente aquele desejo que é quase unânime na bancada de deputados
do PSB e de muitos deputados do PT”.
Destaco, da reposta acima, duas frases:
i/“o PT não vai resolver nada das federações pelas páginas de jornais”;
ii/“desejo que é quase unânime na bancada de deputados do PSB
e de muitos deputados do PT”.
Registro: desde 16 de dezembro até hoje 7 de fevereiro a partir das 19h00, a direção nacional do PT não recebeu nenhum informe das negociações.
Nenhum. Ficamos sabendo de tudo pelas páginas dos jornais
ou através de relatos informais.
Registro: a
federação é um desejo “quase unânime” da bancada do PSB. Já no PT, é desejo de “muitos
deputados”. O porquê dessa diferença, pode-se imaginar.
Isto posto, há
um problema: se deixarmos de lado o tom da entrevista de Guimarães e nos concentrarmos
no conteúdo do que foi dito por ele, a coisa toda segue preocupante.
Comecemos
por onde o presidente do PSB começou: a direção da federação.
Segundo Guimarães,
“no debate que fizemos com os quatro partidos sobre o estatuto da
federação foi colocado um critério para respeitar o tamanho dos partidos,
tamanho do Congresso, ninguém pode querer ser mais do que outro se não tem voto
para isso”.
Como já argumentamos em outro lugar (http://valterpomar.blogspot.com/2022/02/como-sera-o-pt-aos-46-anos.html), é um erro naturalizar este tipo de critério parar aferir o “tamanho” do PT.
O
PT é muito maior do que o tamanho de suas bancadas, o PT é muito maior do que
sua votação nas eleições para prefeituras e governos de estado. Politica e estratégicamente falando, o PT é maior inclusive do que sua votação nas disputas presidenciais.
Ao naturalizar este tipo de critério (eleitoral congressual), abrimos as portas para adotarmos critérios análogos, como por exemplo o número de prefeitos.
Guimarães tem razão ao dizer que “eleição municipal é outra coisa, em federação você parte do princípio nacional”.
O problema é que a federação vai valer também
para as eleições municipais de 2024. E qual será o critério adotado nesse caso?
Acontece que Guimarães e muitos outros tendem a olhar a política e o próprio PT do ponto de vista do Congresso Nacional.
E deste ponto de vista, o “tamanho” do PT é “o tamanho das bancadas no Congresso que decide Fundo Eleitoral, Fundo Partidário, liderança no Congresso”.
Na medida em que
pensam isto, não se dão conta de que a dinâmica da federação -se vier a ser
aprovada – vai nos levar mais e mais a adotar a lógica da “cooperativa de parlamentares”,
predominante em outros partidos.
Sigamos.
Guimarães reclama que “nem batemos o martelo porque não tem
definição sobre a federação. Se o Siqueira discorda, que ele diga na reunião,
que ele converse conosco”.
Realmente, Siqueira agiu mal, especialmente por ele ser um
privilegiado: participa de reuniões sobre as quais a executiva e o diretório
nacional do PT não receberam nenhum informe, desde o dia 16 de dezembro de 2021
até o dia 7 de fevereiro de 2022, a partir das 19h00.
Guimarães também reclama da postura do presidente nacional do
PSB, no tocante às eleições estaduais: “Ficamos, primeiro, com surpresa. E uma
certa indignação. Temos tratado o PSB com o máximo de respeito. Nunca levamos
para imprensa as divergências e os problemas que acontecem nas reuniões com os
quatro partidos. Essa conduta a gente vai manter. Estamos respondendo por conta
de uma exigência partidária. Há um ambiente que, pela responsabilidade que nós
temos, que eu tenho, como vice-presidente nacional do PT, não poderia silenciar
frente ao que foi dito, por meio da imprensa. E não é a primeira vez”.
Não é a primeira vez, mas isto não impediu nossos gestos de excessiva boa vontade.
Por exemplo: “Humberto Costa acabou de fazer um baita de um gesto.
Renunciou a uma candidatura que está em primeiro lugar ao Governo de Pernambuco
[em apoio ao nome do PSB]. Isso não conta?”
Deveria contar, se o mundo fosse justo. Mas no mundo real, concessões “antes da hora” acabam sendo contraprodutivas.
Sinalizam fraqueza, desespero, pressa, insegurança.
Todos os gestos do PT sobre a federação (inclusive as lideranças no
congresso) emitiram, para o presidente do PSB, o seguinte sinal: eles estão
precisando de nós mais do que nós deles. E sentindo gosto de sangue, ele partiu para o ataque.
Infelizmente, Guimarães percebeu o problema mas ainda não parece ter aprendido a lição.
No caso do ES, apresenta como “condição” o apoio de Renato Casagrande a Lula. Mais nada. No caso do Rio, lembra que o apoio já está concedido. E no caso do Rio Grande do Sul, diz quais “nós vamos discutir lá na frente. O PT tem um bom candidato [Edegar Pretto], o PSB também [Beto Albuquerque], tem a Manuela D'Ávila [PC do B], então até sugerimos que esses três partidos sentassem para discutir o melhor caminho, para se unificar”. Ou seja, sinaliza para uma solução ao estilo Pernambuco.
No caso de São Paulo, Guimarães defende “unir Haddad, Márcio
França, Guilherme Boulos e Geraldo Alckmin” (....) “vamos analisar qual é o
melhor nome para ganhar, qual é o nome mais forte. Isso é que tem que
considerar, e não impor nome A ou B”.
Mas, ato contínuo, Guimarães afirma: “o PT dificilmente
deixará de ter candidato a governador de São Paulo, pelo que representa o
Haddad. Agora, isso é motivo para não sair a federação? Não. Isso é motivo para
ter dificuldade para apoiar o Lula? Não. Nós vamos ter que administrar”.
"Administrar" é palavra bonita, mas como???
A federação é um ato nacional. Uma vez estabelecida, os partidos federados só poderão ter uma única candidatura a governador em cada estado do país.
Se a decisão sobre a candidatura a governador for tomada em âmbito nacional, prevalecerá a candidatura que tiver apoio de 2/3 da direção da federação.
Compreende-se, portanto, a tática de Siqueira: definir desde já as
candidaturas a governador e, também, definir desde já a candidatura "nata" dos
prefeitos, bem como uma composição da direção que possibilite ao PSB ter poder
de veto sozinho e/ou poder compor com mais facilidade uma maioria de 2/3.
Para Siqueira, estas garantias são mais importantes do que
os parlamentares a mais que uma federação supostamente possa eleger, assim como as tais garantias são mais importantes do que
eleger Lula etc.
Do ponto de vista de Siqueira, participar de uma federação
hegemonizada pelo PT não pode enfraquecer o poder de barganha do PSB.
Se – como defende Guimarães – “temos que agregar outras
forças de centro”, “temos que atrair o Alckmin, temos que sentar com o PSD do
Gilberto Kassab”, “com várias forças, ainda que não seja coligações formais”, então
nas contas de Siqueira o PSB pode terminar perdendo importância se estiver
amarrado numa federação hegemonizada pelo PT.
Por isso, para ele não bastam as concessões feitas até agora
– concessões que nós, petistas contrários à federação, são suficientemente inaceitáveis.
Para Siqueira é preciso muito mais. E é preciso demonstrar publicamente "quem
manda".
Não sei se Guimarães e outros defensores da federação estão
dispostos a pagar o preço exigido pelo presidente do PSB. Na entrevista Guimarães falou duro: “Quem não quiser não
vai. Quem não quiser não vai [repete]. Não estamos pedindo favor a ninguém para
compor a federação”.
Mas ao mesmo tempo repetiu o mantra: “A federação é uma
necessidade estratégica para o país. E o interesse é nacional, não pode ser
interesse menor desse ou daquele partido. Até porque se fôssemos levar em
consideração só esse negócio de deputado, o PT pode fazer uma baita campanha de
legenda e, pela força que o Lula tem hoje, aumentar fortemente a sua bancada,
com federação ou sem federação”.
Notem: "com ou sem federação", o PT pode aumentar fortemente a
sua bancada.
Eu complementaria: havendo federação, parte deste aumento vai
ser transferido para os partidos federados.
Mas o principal é o seguinte: se “a federação é uma necessidade
estratégica”, então está dada a senha para o PT sacrificar seus interesses “menores”
no altar do PSB, digo, da pátria.
Por isso, embora aplauda as palavras duras de Guimarães, considero
que o risco continua posto.
E na origem do risco estão duas ideias erradas.
A primeira é velha: a de organizar a governabilidade principalmente
em torno de maiorias congressuais.
A segunda é nova: achar que uma “federação” vai contribuir de maneira transcendental para a governabilidade.
As contas de Guimarães são curiosas: “A federação é um
instrumento (...) para ajudar a mudar a correlação de forças no Congresso. Com
130 deputados [atual tamanho da esquerda], ninguém consegue praticamente nada.
É preciso ter de 180 a 200 deputados [de um total de 513], essa é a meta. Se
não for isso é conversa fiada e a gente não muda a realidade”.
Com 130, praticamente nada.
Com 180 a 200, mudamos a realidade.
É óbvio que a suposição é que estes 180 a 200 vão atrair “por
gravidade” o que falta para chegar na maioria (257).
Pode ser. Pode. Como também pode dar tudo errado, por diversos fatores.
Mas na dúvida, há uma única coisa certa nisto tudo: o PT é o núcleo duro de qualquer
movimento exitoso (seja eleitoral, de governabilidade congressual, de sustentação popular
etc.)
A federação atualmente em discussão – como está sendo demonstrado pelos fatos – só vai acontecer se o PT pagar uma conta que o enfraquecerá
demasiadamente.
E reduzir a força do PT vai levar, mais cedo ou mais tarde, a desmontar todo o resto, inclusive os planos de “governabilidade”.
Essa foi a experiência de nosso período na presidência da República.
Por isso, diferente de Guimarães, considero que “estratégico”
não é a federação; estratégico é o PT.
Siqueira sabe disso. E por isso nos ataca.
Por fim: como diz o próprio Guimarães, não ter federação não
interdita a construção do palanque com o Lula.
E não se deve fazer aliança “a ferro e fogo”. Nem no Ceará,
nem em nenhum lugar.
A ENTREVISTA
DE Carlos Siqueira
Presidente
do PSB cobra reciprocidade do PT e admite riscos a federação
Givaldo
Barbosa/Agência O Globo
As conversas
entre PT, PSB, PV e PC do B parecem estar avançando no sentido de vocês
formarem uma federação, mas ainda existem impasses estaduais. Hoje, de 0 a 10,
qual a chance o sr. vê de a federação sair até março? Você disse que está
avançando, eu diria que está apenas sendo discutida. Não há avanço nem
retrocesso.
O que há é a
discussão de como essa federação funcionará. E essas normas têm um centro, que
é o comando da federação.
Hoje, a
proposta do PT é que numa assembleia de 50, que decidirá todas as questões
fundamentais da federação, o PT tenha 27, sugere 15 para o PSB, 4 para o PC do
B e 4 para o PV. Ou seja, o PT fica com a maioria.
Nada
obstante o quórum ser qualificado de dois terços [para tomar decisões],
obviamente que quem tem 27 tem mais condições de chegar a dois terços do que
quem tem 15, que é o que nos competirá se entrarmos na federação.
Então, a
questão da federação não está diretamente ligada às questões estaduais, das
candidaturas em que queremos o apoio do PT.
São
conversas que caminham em paralelo, então. São coisas distintas, muito embora o
que for definido sobre os governos estaduais tenha uma repercussão também sobre
a decisão que vamos tomar sobre a federação.
O essencial
a ser examinado é se o PSB quer continuar tendo sua política e decidindo as
coisas essenciais ou [se quer estar] numa estrutura que tem essa configuração
com a maioria de um partido. [Tem que decidir se] deseja entregar o seu destino
a essa federação.
Essa é a
discussão que tem de ser processada no âmbito do PSB e dos outros partidos.
Não há como
o PT não ter 27? O PT tem suas razões, nós reconhecemos, de ter essa
quantidade. O PSB, por seu turno, admite a discussão, mas ainda não há decisão
[do partido].
Ademais, tem
o problema do tempo. O TSE achou que devia desconhecer o prazo que o Congresso
estabeleceu em lei, que é agosto, e estabeleceu um prazo demasiadamente curto
[os partidos têm até 1º de março para registrar federações] para se processar
uma discussão sobre a federação, que precisava ser profunda e com tempo
suficiente até março. É muito pouco tempo.
Há como formar
esse comando sem o PT ter a maioria? Não. Isso já está estabelecido. Teve
discussão. Eu fiz proposta de agregar mais membros ao PSB considerando o número
de prefeitos e vereadores que nós temos, que é maior do que o do PT. Mas o PT
mantém a proposta deles e vamos examinar se convém ou não.
O que há
para ser feito, então, sobre a composição? É compreensível que o PT queira ter
um número maior de representantes na assembleia, mas não precisa ser tanto.
Isso pode ser melhorado se eles refletirem e concluírem que precisa ter um
equilíbrio na composição. Por isso eu proponho que se agregue a questão dos
prefeitos. Isso daria um equilíbrio a todos.
Se o PSB
fechar a federação, significa perder autonomia sobre o próprio partido? Nesses
termos, com essa composição, sim. Nos termos que estão estabelecidos, não tenho
dúvida que o partido perde muito da sua autonomia sobre questões essenciais,
sobretudo no plano eleitoral. Mas a matéria está em discussão, vamos ver se ela
progride.
Então a
decisão passa por decidir se vão perder ou não autonomia? Mantida essa
composição, sim. Se não mudar a composição, vai ter muita dificuldade de
aprovar a federação no âmbito do diretório nacional do PSB.
O sr. vai
levar a discussão ao diretório nacional quando? Quando ela acabar entre os
partidos. Não se trata do quórum qualificado [para tomar decisões], mas do peso
que cada um terá.
Pessoalmente,
o sr. acha que é bom para o PSB entrar na federação? Eu tenho procurado, pelo
menos publicamente, não me posicionar a esse respeito, porque dentro do partido
há divergências. Nessa fase quero apenas colher as opiniões e formar minha
convicção para convocar o diretório nacional.
Sobre os
palanques estaduais, que é uma questão que corre em paralelo... Sim. Nós já
estamos apoiando o PT para quatro governos estaduais. Apoiamos o candidato ao
governador na Bahia, no Piauí, em Sergipe e no Rio Grande do Norte.
O PT tem
sinalizado com dois estados só até agora: Pernambuco e Rio de Janeiro. Mas nós
temos cinco demandas para eles [e queremos o apoio em] São Paulo, Rio Grande do
Sul e Espírito Santo.
No Rio
Grande do Sul, o sr. recebeu sinalização de que ele vai apoiá-los? Não. Mas
espero que eles cedam em tudo. Na política tem uma coisa que se chama
reciprocidade.
Em São
Paulo, que é o palanque tido como mais complicado, vocês não cogitam abrir mão
da candidatura do Márcio França (PSB-SP)? Não. Eu já disse e reitero sempre:
ele só não será candidato se ele não desejar. E no momento ele deseja. Acho
ainda mais. Que ele tem melhores condições eleitorais do que o próprio
[Fernando] Haddad.
Lula tem
dito que vê chance real de o PT ganhar e uma das razões é que Haddad pontua na
frente do França nas pesquisas. Isso não é um sintoma de que Haddad de fato
está melhor? Eu respeito muito a opinião do presidente Lula, mas ele também
achava isso no Recife, que a candidata dele [Marília Arraes (PT-PE)] ganharia a
eleição para a prefeitura do Recife no ano passado. E ela perdeu com 100 mil
votos de diferença do nosso, do prefeito João Campos (PSB-PE).
Política não
é matemática. Política se faz com vários fatores que vão muito além de
pesquisas.
Isso pode
ser um problema nas eleições municipais. Nós temos geralmente nas eleições de
1.000 a 1.100 candidatos a prefeito e elegemos 250 prefeitos. O PT elegeu 180.
Não sabemos onde haverá conflito, mas isso ocorrerá provavelmente nas grandes
cidades. E pode acontecer com o PV e com o PC do B.
Tem de haver
regras que possam garantir a candidatura nata à reeleição de todos os 250
prefeitos do PSB. E eu fiz essa proposta, inicialmente o PT discordou, mas depois
admitiu consultar.
Agora, em
termos de aliança, já está decidido que o PSB apoiará o ex-presidente Lula? Não
está decidido, mas é o mais provável. Por isso estamos trabalhando fortemente
porque consideramos que o ex-presidente Lula reúne as condições para derrotar
Bolsonaro e pregamos que a frente não pode ficar restrita à esquerda. A frente
tem de ampliar para o centro.
Vocês têm
conversado sobre indicar o vice caso o ex-governador Geraldo Alckmin se filie
ao PSB. Soube que ele esteve com integrantes do PSB nesta semana. Ele mandou
sinal de fumaça que vai se filiar? Ele esteve conosco, fizemos o convite.
Sabemos que temos divergências sobre alguns assuntos, mas nessas circunstâncias
achamos simbólico acenar para um campo político que não é o nosso, que é o
centro político, que precisa ser conquistado.
O PSD também
deveria fazer parte da frente, na sua avaliação? Sim.
O PSB
abriria mão da filiação do Alckmin para que ele fosse ao PSD, se essa
possibilidade existir? Não podemos abrir mão da filiação do Alckmin porque nós
convidamos e temos palavra. Agora, se ele vai ser convidado para ser vice, não
cabe ao PSB, cabe ao PT.
O sr. acha
que o PT está subindo no salto ao não ceder já em alguns estados? Eu não sou
muito apreciador da expressão salto alto. Temos relações com o PT que são
antigas e remonta ao ano de 1989.
Em todas as
eleições seguintes nós os apoiamos no primeiro turno ou no segundo. É bom que
se lembre que política é uma parceria de mão dupla. De mão única, acaba dando
uma trombada.
Nós
esperamos que eles nos apoiem nos cinco estados que demandamos.
E no
Espírito Santo? Nós demandamos apoio ao governador Renato Casagrande. Eu pensei
que estava bem encaminhado, mas nesta semana eu mandei para a presidente do PT
Gleisi [Hoffmann (PR)] uma matéria do senador Fabiano Contarato (PT-ES) se
apresentando como candidato. É preciso que o PT adote as providências para viabilizar
esse apoio.
Em meio às
discussões com o PT, ouvimos que o sr. estaria contrariado com declarações que
Marcelo Freixo (PSB) teria dado de apoio a Haddad em São Paulo. O sr. conversou
com ele? Ele esteve esta semana comigo, conversamos. Eu expressei publicamente
não só a minha opinião, mas expressei uma certa indignação que houve de muitas
pessoas no PSB, que acharam inadmissível a declaração dele.
Ele diz que
foi invenção da jornalista, mas a verdade é que não houve um desmentido no dia
seguinte sobre a matéria.
Qual a
vantagem de formar a federação, se existem tantos impasses? A federação se
torna um instrumento poderoso eleitoralmente nessas eleições, para eleger, no
caso do PSB, mais três ou quatro deputados, não mais que isso.
Tem de se
examinar se essa vantagem é suficiente para entrar na federação ou não. Porque
eu não consigo ver outras vantagens para o futuro.
Apesar
disso, estou esperançoso que tanto o PT e os demais partidos reflitam sobre as
dificuldades para fechar a federação e aprovem regras que são democráticas e
aceitáveis.
A ENTREVISTA
DE JOSÉ GUIMARÃES
PT não
aceita pito nem considera federação com PSB essencial, afirma deputado
O presidente
do PSB manifestou preocupação de o PT tentar ter a hegemonia em uma eventual
federação. Como o partido irá contornar essa insatisfação? O PT não iniciou o
debate sobre federação somente por questões eleitorais. O PT entende que a
federação é um instrumento que pode ser fundamental para alterar a correlação
de forças dentro do Congresso, com um bloco de esquerda, centro esquerda, que
seja capaz de iniciar uma nova governabilidade congressual.
Agora, nós
não fomos procurar nenhum desses partidos para fazer federação. Nós iniciamos o
debate a partir da solicitação deles, e não tem nada definido. Portanto, se um
dos partidos discorda de uma ou outra tese do PT, se discute isso internamente.
O PT não vai
resolver nada das federações pelas páginas de jornais ou recebendo pito desse
ou daquele partido. O PT tem história, tem maturidade.
Esse tipo de
posição do presidente do PSB não ajuda, só atrapalha, e complica fortemente
aquele desejo que é quase unânime na bancada de deputados do PSB e de muitos
deputados do PT.
O PT não
estaria obtendo apoio ao presidente Lula sem dar algo relevante em troca? No
debate que fizemos com os quatro partidos sobre o estatuto da federação foi
colocado um critério para respeitar o tamanho dos partidos, tamanho do
Congresso, ninguém pode querer ser mais do que outro se não tem voto para isso.
Mas em número
de prefeitos o PSB é maior. Eleição municipal é outra coisa, em federação você
parte do princípio nacional. Nós levantamos essa ideia, e PV e PC do B
concordaram. Mas nem batemos o martelo porque não tem definição sobre a
federação. Se o Siqueira discorda, que ele diga na reunião, que ele converse
conosco.
Mas ele não
manifestou isso a vocês, em reuniões? Ele manifestou na reunião, eu estava
nela, e eu tinha entendido que havia um consenso que se respeitasse o princípio
da proporcionalidade. Ninguém tira tamanho dos partidos por decreto. O partido
tem representatividade social, tem voto. O PT é do seu tamanho e é desse
tamanho que nós vamos para a eleição.O PT, então, não abre mão dessa
proporcionalidade? O PT não vai abrir mão de seu tamanho, porque estaríamos
incorrendo em um erro grave. É um tamanho dado pelas urnas, não é por decreto.
É o tamanho das bancadas no Congresso que decide Fundo Eleitoral, Fundo
Partidário, liderança no Congresso.
Essa ideia
de que o PT quer hegemonizar... passamos 2021 com um espírito de boa vontade
tamanho que temos dois líderes no Congresso que são do PSB, o Alessandro Molon
[líder da oposição] e o Marcelo Freixo [líder da minoria].
O PSB vai
participar da federação com o seu tamanho, o PT com o seu tamanho, o PV com o seu
tamanho, o PC do B com o seu tamanho. Isso é respeito e reconhecimento do que o
eleitor decidiu na última eleição e poderá decidir na próxima. E temos que
agregar outras forças de centro.
Temos que
atrair o Alckmin, temos que sentar com o PSD do Gilberto Kassab. E com várias
forças, ainda que não seja coligações formais. Temos vários palanques estaduais
com o MDB, como no Pará, em Alagoas.
O PSB
argumenta só ter pedido apoio a seus candidatos em cinco estados, incluindo São
Paulo. O que o PT está disposto a ceder? Veja bem, Humberto Costa acabou de
fazer um baita de um gesto. Renunciou a uma candidatura que está em primeiro
lugar ao Governo de Pernambuco [em apoio ao nome do PSB]. Isso não conta?
Eu já falei
para o Siqueira: no Espírito Santo é só o governador Renato Casagrande apoiar o
Lula. Ele não declarou apoio ainda, como vamos apoiar um cara se você não sabe
se ele apoia o Moro ou o Lula? Na hora que ele se dispuser a sentar com o PT,
respeitando o PT e declarando apoio ao Lula, estaremos no palanque do
Casagrande no Espírito Santo.
Com o Freixo
[pré-candidato do PSB ao governo do Rio], já tínhamos discutido lá atrás
[apoiar]. No Rio Grande do Sul nós vamos discutir lá na frente. O PT tem um bom
candidato [Edegar Pretto], o PSB também [Beto Albuquerque], tem a Manuela
D'Ávila [PC do B], então até sugerimos que esses três partidos sentassem para
discutir o melhor caminho, para se unificar.
E em São
Paulo? O Fernando Haddad foi nosso candidato à Presidência [em 2018], se
colocou como alternativa. É o candidato do PT, como o PSB diz que tem
candidato, o Márcio França. Eu defendo a ideia de que em São Paulo devemos unir
Haddad, Márcio França, Guilherme Boulos [PSOL] e Geraldo Alckmin [ex-PSDB, que
negocia ser vice de Lula].
Se esses
quatro personagens tiverem grandeza política e tiverem compromisso com o estado
de São Paulo, nós podemos ganhar a eleição. E vamos analisar qual é o melhor
nome para ganhar, qual é o nome mais forte. Isso é que tem que considerar, e
não impor nome A ou B.
Evidentemente,
e aí falo a você com todas as letras, o PT dificilmente deixará de ter
candidato a governador de São Paulo, pelo que representa o Haddad. Agora, isso
é motivo para não sair a federação? Não. Isso é motivo para ter dificuldade
para apoiar o Lula? Não. Nós vamos ter que administrar.
Acho que São
Paulo é um emblema, e eles sabem da nossa opinião. E nós nunca fomos externar
publicamente nenhuma posição de desrespeito com o Márcio França. Eu acho que
quando o Siqueira fala do Haddad é um pouco de falta de respeito. O Haddad é um
quadro extraordinário da política brasileira, assim como é o Boulos, o Márcio
França. Tínhamos todas as razões pretéritas para reclamar, mas não vamos fazer
em respeito à história de cada partido e cada candidato.
Quais razões
pretéritas? Na eleição passada, o Márcio França não quis o apoio do PT quando
disputou com o João Doria [PSDB]. Mas não vamos ficar... Veja bem, essa eleição
é não é trivial, é diferente. Temos que interditar essa ameaça que ronda o
Brasil, que é o Bolsonaro. Portanto as forças que têm algum compromisso com a
democracia têm que estar juntas. E o nome que pode somar, aglutinar e liderar
isso, é o Lula.
Qual foi a
repercussão da entrevista do Siqueira dentro do partido? Pelo que nós
representamos, pelo que nós somos, evidentemente que a militância não aceita
que alguém de outro partido fique dando pito no PT. 'Faça isso senão não
vou...' Quem não quiser não vai. Quem não quiser não vai [repete]. Não estamos
pedindo favor a ninguém para compor a federação.
A federação
é uma necessidade estratégica para o país. E o interesse é nacional, não pode
ser interesse menor desse ou daquele partido. Até porque se fôssemos levar em
consideração só esse negócio de deputado, o PT pode fazer uma baita campanha de
legenda e, pela força que o Lula tem hoje, aumentar fortemente a sua bancada,
com federação ou sem federação.
A federação
é um instrumento que eu vejo para ajudar a mudar a correlação de forças no
Congresso. Com 130 deputados [atual tamanho da esquerda], ninguém consegue
praticamente nada. É preciso ter de 180 a 200 deputados [de um total de 513],
essa é a meta. Se não for isso é conversa fiada e a gente não muda a realidade.
Como Lula e
a Gleisi [Hoffmann, presidente do partido] receberam as cobranças que ele
[Siqueira] fez? Com surpresa. Eu não falei com o presidente Lula, falei com a
Gleisi. Ficamos, primeiro, com surpresa. E uma certa indignação. Temos tratado
o PSB com o máximo de respeito. Nunca levamos para imprensa as divergências e
os problemas que acontecem nas reuniões com os quatro partidos.
Essa conduta
a gente vai manter. Estamos respondendo por conta de uma exigência partidária.
Há um ambiente que, pela responsabilidade que nós temos, que eu tenho, como
vice-presidente nacional do PT, não poderia silenciar frente ao que foi dito,
por meio da imprensa. E não é a primeira vez.
O sr.,
então, considera importante a federação, mas não acha que seja fundamental para
o PT? Não tem problema se não sair. E não é com imposição de ninguém que nós
vamos ou não para federação.
E queria
dizer que tudo isso que ele disse e que eu estou falando também não é motivo
para interditar o diálogo, interditar a construção do palanque com o Lula, que
é a centralidade da esquerda, interditar o debate com a federação. Não adianta
governos estaduais se não tivermos uma mudança profunda nesse ambiente político
que o Bolsonaro representa.
No Ceará, o
PT de Lula e o PDT de Ciro Gomes seguirão unidos? A tendência aqui [Ceará] é
manter a aliança em torno do Camilo Santana [atual governador, do PT] para o
Senado, escolhendo um nome para governador que contemple não só o PT, mas o
PDT.
Mesmo com as
críticas que Ciro faz a Lula e ao PT? São críticas desrespeitosas, infundadas,
e que só atrapalham a nossa aliança no Ceará. Nós temos evidentemente
considerado isso, não vamos fazer aliança no Ceará a ferro e fogo. São as
contradições da política, mas nós, do PT, não vamos nos render a nada. Para nós
do PT do Ceará é Lula, Camilo e aumentar a nossa bancada.
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