Editorial
No dia 7 de outubro,
o povo brasileiro compareceu às urnas, para eleger as autoridades executivas e
legislativas de cada um dos 5567 municípios brasileiros. Em 50 municípios,
haverá segundo turno no dia 28 de outubro.
O PT foi o partido mais votado, com 17,2 milhões de votos,
nos escolhendo para governar e legislar, ou nos atribuindo o papel de oposição.
Elegemos já no primeiro turno 624 prefeitos e prefeitas,
entre os quais 13 em cidades com mais de 150 mil eleitores. Ampliamos nossa
presença nos legislativos municipais. Petistas disputam o segundo turno em 22
cidades, entre as quais São Paulo.
Nosso desempenho eleitoral foi resultado de uma combinação
de fatores: a criatividade e pertinência das propostas que apresentamos para
resolver os problemas de cada município; o exemplo globalmente exitoso de
nossos governos municipais, estaduais e federal; o prestígio de nossas
candidaturas e lideranças, com destaque para Lula e Dilma; nossa capacidade de
construir alianças sociais e políticas, tendo como referência a base de apoio
de nosso governo federal; e, como fator principal, destacamos a animação, a
persistência e a combatividade da militância petista, milhões de homens e
mulheres que, em seus locais de residência, estudo, trabalho e lazer, sustentaram
com convicção as bandeiras do PT.
Nosso desempenho nas eleições municipais ganha ainda maior
significado, quando temos em conta que ele foi obtido em meio a uma intensa
campanha, promovida pela oposição de direita e seus aliados na mídia, cujo objetivo
explícito é criminalizar o PT.
Neste momento, tal campanha se apoia principalmente no
julgamento que está em curso no STF. Marcado propositalmente para coincidir com
o processo eleitoral (sem que haja explicação para o fato de ainda não ter sido
julgado caso similar e anterior envolvendo tucanos), com decisões casuísticas
(como o não desdobramento, aceito no caso do chamado mensalão tucano),
legislação de exceção (estabelecendo culpabilidade sem que haja provas nos
autos, sendo que a ausência de provas foi utilizada pelo STF para livrar Collor
de Mello) e atropelos por parte do promotor (o mesmo que atrasou o quanto pode
as investigações contra Cachoeira), o julgamento do chamado mensalão é
manipulado para converter-se não em julgamento de pessoas, mas do Partido.
Não é a primeira, nem será a última vez, que os setores
conservadores demonstram sua intolerância; sua falta de vocação democrática; sua
hipocrisia, os dois pesos e medidas com que abordam temas como a liberdade de
comunicação, o financiamento das campanhas eleitorais, o funcionamento do
judiciário; sua incapacidade de conviver com a organização independente da
classe trabalhadora brasileira.
Mas ao menos no primeiro turno das eleições, a voz do povo
encobriu a dos que vaticinavam a destruição do Partido dos Trabalhadores.
O voto popular trouxe valiosos ensinamentos ao PT, que devem
ser debatidos e incorporados por nossa militância, inclusive para garantir um
desempenho vitorioso no segundo turno. Sem nunca perder de vista o caráter municipal
das eleições, daremos prosseguimento ao debate entre diferentes projetos
nacionais, a defesa de nosso Partido e de nossas administrações, a começar
pelos governos Lula e Dilma.
Passado o segundo turno, haverá muito o que debater,
explicar e entender. Inclusive no que diz respeito ao julgamento, a respeito do
qual a crítica ao STF deve ser acompanhada da devida autocrítica por parte dos
que abriram o flanco para o ataque de que estamos sendo vítimas.
De toda forma, o que estamos assistindo neste processo
eleitoral não deve surpreender ninguém, pois se trata apenas da confluência de
vários fatores que vem se acumulando há algum tempo. Para os quais, vale dizer,
temos alertado seguidamente nos editorial e demais textos publicados em Página
13.
A seguir, uma lista:
A avaliação positiva de Dilma e nosso governo federal não se
traduz em voto equivalente por parte de nossas candidaturas. Inclusive porque,
como vimos no primeiro turno, uma das implicações do chamado governo de
coalizão foi a ausência de Dilma em disputas fundamentais para o PT.;
A oposição de direita (PSDB, DEM e PPS), embora com
dificuldades, não está e nunca esteve morta. E em vários locais ela utiliza
dubles de corpo, ou seja, o projeto neoliberal e conservador tem como porta-voz
partidos e candidaturas integrantes da base do governo federal;
As grandes empresas de comunicação fazem uma campanha
permanente contra o PT e contra as idéias da esquerda. Ou democratizamos a
comunicação, ou as empresas de comunicação continuarão colocando em questão a
democracia;
Parte da base de apoio do governo está em campanha para
derrotar o que eles denominam de hegemonismo do nosso partido. E aí é preciso
distinguir o que é direito legítimo de acumular forças para seu próprio
projeto, do que é anti-petismo e conservadorismo travestidos;
A ampliação da capacidade de consumo de uma parcela da
população brasileira, sem a correspondente politização e organização, deu
origem a um setor social manipulável pelo populismo de direita e por idéias
conservadoras, muitas vezes articuladas por projetos de natureza
religioso-empresarial.
Colabora para esta manipulação a
debilidade de algumas políticas públicas que, embora universais de direito, não
o são de fato, abrindo espaço para que esta parcela da população seja disputada
por soluções de mercado (como os planos de saúde, as escolas privadas e o
transporte individual), gerando insatisfação e ao mesmo tempo reforçando a
manipulação deste setor pelo populismo de direita.
A renovação geracional da população brasileira faz com que,
para uma parcela do eleitorado, nós sejamos parte do passado, não do futuro.
Fator que ajuda a compreender o surgimento de um eleitorado que vota em
alternativas à esquerda do PT, com resultados expressivos em cidades como
Belém, no Rio de Janeiro e em Niterói, para ficar só nestes exemplos.
A manipulação do julgamento do chamado mensalão, num conluio
entre setores da direita do judiciário, grandes empresas de comunicação e a
oposição de direita, coloca parcela do petismo na defensiva. O fato da maioria
dos integrantes do STF ter sido indicada por Lula e Dilma, tendo em alguns
casos adotado posturas progressistas, apenas confirma que o problema é
estrutural, motivo pelo qual confirma-se que a reforma do judiciário é
componente inseparável da reforma democrática das instituições.
O financiamento privado das campanhas chegou a um ponto de
total esgotamento, com custos nas alturas e doações na baixada. A reforma
política deve continuar sendo um objetivo fundamental do PT em 2013.
A isto tudo podemos agregar um aspecto pouco debatido na
direção nacional do PT, mas que para nós é fundamental: as opções macro e
microeconômicas do governo federal, para combater a crise e seguir
desenvolvendo o país, misturam medidas corretas com concessões exageradas ou
simplesmente incorretas ao grande capital. Numa imagem: o Mantega de hoje é
melhor que Palloci, mas não é melhor que o Mantega de ontem.
Apesar de todos estes riscos, na reta final do primeiro
turno as candidaturas do PT reagiram e o saldo foi de vitória política e/ou
eleitoral, apesar de derrotas gravíssimas e situações complicadas. Por óbvio, a
depender do que ocorra no segundo turno, em especial na cidade de São Paulo, o
balanço será um ou outro.
Entretanto, o fundamental é perceber que se acumularam
imensos problemas, cuja solução passa por uma revisão na estratégia partidária.
Sem isto, a derrota virá, mais cedo ou mais tarde.
A revisão estratégica deve incluir deixar para trás certas
ilusões. Neste sentido, uma análise fria do julgamento no STF confirma a
natureza estruturalmente conservadora do poder judiciário brasileiro e, por
tabela, do Estado brasileiro.
Isto diz muito sobre os limites da estratégia de mudança por
dentro. Se não houver uma reforma do Estado, se não houver pressão social de
fora para dentro, se não perdermos as ilusões, a mudança que virá será contra
nós, não a favor dos trabalhadores.
Esta edição de Página 13 chega aos leitores na véspera do
segundo turno. Convidamos a todos e a todas para que votem 13, votem nas candidaturas
do PT. E, ao povo venezuelano, parabenizamos pelo vitória de Chávez presidente
da nossa irmã República Bolivariana.
O desempenho do PT no primeiro turno das eleições municipais
brasileiras, assim como a vitória do Grande Polo Patriótico nas eleições
presidenciais venezuelanas igualmente realizadas no dia 7 de outubro, confirmam
a força da esquerda democrática, popular e socialista latinoamericana e
caribenha.
Os editores