terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Roda Viva: Lula erra ao manter mister Múcio

Alguns dirigentes do PT acham que não se pode fazer críticas públicas ao presidente Lula.

Entendo esta postura.

Primeiro, porque cabe ao PT defender o governo. E aos dirigentes petistas cabe dar o exemplo.

Segundo, porque fiz campanha para Lula em 1982 e votei nele em todas as demais eleições em que concorreu. Espero poder votar, novamente, em 2026. 

Terceiro, porque há circunstâncias do dia-a-dia do governo, sobre as quais só Lula tem informação completa.

Quarto e principal, porque quero mudar a política do governo. E para isso preciso, entre outras coisas, convencer o presidente.

Por tudo isto e muito mais, sempre que critico a política adotada pelo governo, busco preservar o presidente Lula.

Mas toda regra tem suas exceções.

O caso de mister Múcio é uma destas exceções.

Múcio foi nomeado pelo presidente Lula. 

E, segundo consta, o presidente Lula teria pedido a Múcio que permaneça no cargo de ministro da Defesa.

O risco decorrente desta escolha ficou - mais uma vez - evidente na entrevista de Múcio ao programa Roda Viva da TV Cultura, no dia 10 de fevereiro de 2025.

Vide sua defesa do parlamentarismo: "O parlamentarismo seria uma coisa que seria uma boa experiência para o Brasil [...] Acho que nós precisamos disso."

Vide sua defesa do semipresidencialismo: "Acho que o semipresidencialismo, que é uma coisa que eu conheço pouco, seria uma forma de você trazer o Congresso Nacional para participar da administração."

Vide, principalmente, sua opinião sobre a intentona golpista de 8 de janeiro de 2023, tentando livrar a cara das Forças Armada, aliviando para os golpistas e abrindo as portas para a anistia pretendida pelo cavernícola.

Vide outras afirmações e posturas, desde dezembro de 2022 até ontem.

João Goulart confiou num tal "dispositivo militar". Mas o Golpe de 64 transcorreu sem que houvesse resistência à altura dos chamados militares legalistas.

Salvador Allende confiou em Pinochet ao ponto de achar que o general teria sido preso pelos golpistas, na manhã de 11 de setembro. Quando se deu conta da traição, era tarde demais.

Lula pelo visto confia em José Múcio. Não atino os motivos. Mas como dirigente do PT e cidadão brasileiro, me sinto na obrigação de opinar publicamente que isto é um erro.

Um erro brutal, como já se viu pela atitude do ministro frente a Intentona de 8 de janeiro, bem como pelo conjunto da obra. E, principalmente, pelo que já está em curso e ainda pode vir a acontecer.

Dixi et salvavi animam meam.




segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

O PT não tem “peças de reposição”

Recomendo ler o texto publicado por César Felício, intitulado “O PT chega envelhecido aos 45 anos” e publicado no jornal Valor. 

Segundo Felício, o “Partido tem dificuldades para renovar quadros e discurso”.

 

Para chegar a esta conclusão, baseia-se na comparação entre a média de idade da bancada federal do PT (“um pouco menor que 56 anos”), a média de idade de toda a Câmara em 2022 (49 anos) e a idade do atual presidente da Câmara (35 anos).

 

Um problema para o PT? Sim, é um problema. Não é nada positivo que a idade média dos nossos parlamentares federais tenha transitado de 38 anos em 1982 a 56 anos em 2022.

 

Mas é preciso tomar cuidado com essas comparações. Pois uma coisa é comparar o PT consigo mesmo, com outros partidos de esquerda e com a composição etária da classe trabalhadora. Outra coisa é comparar o PT com os partidos de direita. 

 

Sem dúvida é positivo – para os partidos de direita – que eles estejam fazendo “renovação geracional”. Mas daí não se deduz que esta “renovação” seja um fato positivo para a imensa maioria do povo brasileiro, entre outros pelo motivo de que um “jovem de direita” não é nem um pouco melhor que um “velho de esquerda”. 

 

E por falar nisto, o principal problema da Câmara dos Deputados não é a idade média, mas sim a origem social e a posição política da maioria dos parlamentares. Sem falar nos meios que cada um utilizou para se eleger.

 

Também segundo Felício, o PT “já foi retrato da renovação política no Brasil em suas primeiras décadas, mas desde a ascensão de Lula à presidência em 2002 passa por um acentuado envelhecimento de suas lideranças, o que sinaliza para problemas de renovação”.


A expressão “retrato da renovação política” é bem curiosa. Talvez com ela se queira dizer o seguinte: nas duas primeiras décadas de sua existência, o PT era um partido jovem, que defendia propostas renovadoras. 

 

E o que teria acontecido depois? 

 

Teria havido um “envelhecimento” das lideranças. Mas e quanto às propostas? Sobre isso, sobre aquilo que o PT defendeu e conseguiu fazer quando esteve no governo do país, de 2002 até o golpe de 2016, César Felício nada fala. 

 

Com isso, a expressão “retrato da renovação política” vira apenas “retrato da renovação”. A política some, fica a idade.

 

Segundo César Felício, o “dilema” deste “PT de cabeça branca” seria “entrar na disputa nacional em 2026 sem nenhuma alternativa minimamente competitiva para substituir Lula, caso o presidente não queira concorrer pela oitava vez em uma eleição presidencial”. 

 

Para começo de conversa, um reparo: o PT tem muitos e muitos “dilemas” a enfrentar antes e depois de 2026. Assim como tem muitas outras lideranças, além dos parlamentares: somos cerca de 2,5 milhões de afiliados/as, dezenas de milhares de militantes e dezenas de milhões de integrantes da Nação Petista. 

 

Quanto a 2026, “dilema” mesmo é o que existe na cabeça de quem está torcendo para que Lula não possa ou não queira competir. Mas suponhamos que isto ocorra. Será mesmo que não temos “nenhuma alternativa minimamente competitiva para substituir Lula”?


Vejamos: foi algo parecido a isso que nos disseram antes de 2010. E apesar do que disseram, Dilma foi eleita e reeleita. Já em 2018, disseram que o PT certamente ficaria fora do segundo turno. Mas, apesar do que disseram, Haddad foi ao segundo turno. E teríamos vencido, inclusive com Haddad, se entre outras coisas não tivessem impedido Lula de fazer campanha.

 

César Felício no fundo admite isto, embora o faça de um jeito engraçado, a saber: “A reeleição de Lula em 2026 está longe de ser um cenário improvável, a julgar pelas últimas pesquisas”. 


Traduzindo em linguagem direta: o mais provável em 2026 é a vitória de Lula

 

Portanto, o tal “dilema” para 2026 se converte na assertiva de que “falta ao PT opções para o longo prazo”.

 

Segundo César Felício, “há quem especule com a presença de João Campos (PSB) prefeito do Recife, na sucessão presidencial de 2030, ou do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em 2034. Essa é uma futurologia muito difícil de ser feita em relação ao PT. Não se vê peças de reposição”.

 

Não sei quem é este sujeito oculto que “especula” com os nomes de João Campos ou de Nikolas Ferreira. Ademais, “futurologia” e análise política são coisas bem diferentes. Seja como for, concordo que não temos mesmo “peças de reposição”. Não temos, nem devemos querer ter. 

 

O que temos são inúmeros quadros, lideranças, militantes que podem exercer tarefas importantes, inclusive futuras eleições presidenciais. Nenhum desses petistas pode ou deve ser classificado como “peça de reposição”. Primeiro, porque este termo é profundamente desrespeitoso. Segundo, porque não existe como copiar/“repor” uma liderança que foi produto de um processo histórico de mais de 50 anos.

 

César Felício diz que o Partido “cresceu lentamente” e “teve seu auge entre 2002 e 2012. Há 23 anos foi a legenda mais votada para a Câmara (…) em 2012 conquistou seu número máximo de prefeitos”. Diz, também, que “a descida ao vale sombrio se deu entre 2016 e 2020, na esteira da LavaJato e do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, que deixaram duas cicatrizes inapagáveis na sigla: corrupção e má gestão na economia. O partido se reergueu em 2022 quando a maior parte do eleitorado brasileiro preferiu se voltar em direção ao passado que encarar um futuro com a extrema-direita no comando”.

 

De fato, o crescimento institucional do PT teve seu pico no passado; desde então, a depender do critério adotado, não é despropositado dizer que estamos decrescendo do ponto de vista eleitoral/institucional. Esse decréscimo se deve, ao menos em parte, às escolhas feitas pelo próprio Partido, mas em grande parte à natureza oligárquica da nossa institucionalidade, que precisa ser reformada de alto a baixo. 

 

César Felício não fala nada ou quase nada sobre o conteúdo dos processos que ele cita. Se o fizesse, teria que admitir que a Lava Jato, o golpe de 2016 e as mentiras que disseram e seguem dizendo sobre o PT, pavimentaram o caminho para a extrema-direita chegar ao comando. Entre o “retrato” e a análise da “política”, Felício prefere o primeiro.

 

O PT tem dificuldade de “pautar a agenda nacional”? Seguramente tem. Em parte porque a “agenda nacional” é disputada com uma direita que dispõe de meios poderosos de impor sua pauta, inclusive a empresa onde César Felício escreve. Em parte, também, porque um pedaço do petismo as vezes aceita uma métrica parecida ao que Felício adota ao analisar: o Congresso. 


Fosse outra a métrica, seria possível ao nosso governo “tocar o barco” de outra maneira. Por isso a necessidade de um debate sobre a estratégia, acerca do que, como diz Felício, não está claro que caminho o PT vai escolher.

 

Tangenciando isso, mas sempre “sem entrar no mérito das propostas”, Felício diz que as “formulações recentes que chamaram a atenção da opinião pública vindas da esquerda partiram do pequeno Psol”. Será verdade? Acho que não. Seja como for, é curioso que neste momento Felício desconsidere totalmente o mesmo critério que ele adotou antes para analisar o PT, a saber, o número de prefeitos, de parlamentares, as votações, as candidaturas presidenciais. No lugar disso, entra a “atenção da opinião pública”.

 

Neste ponto do texto, Felício  pergunta de que “corrente nacional poderá vir o novo petista”, uma vez que  - segundo ele - os veios de que teria nascido o PT “não correm mais nos dias de hoje”. Sem dúvida o mundo mudou muito desde 1980. Mas é um exagero dizer que o sindicalismo, o catolicismo (rural ou não) e a intelectualidade radical são veios secos. Deste exagero surge, provavelmente, a tese de que seria necessário um “novo petista”, desvinculado da “velha” classe trabalhadora.


Felício termina afirmando que a “angústia petista” torna-se mais “expressiva” porque a “encruzilhada da esquerda não é um fenômeno puramente brasileiro”. E conclui dizendo que “os tempos não são de festa para o PT”.


Não acho que “angústia” seja o termo mais adequado, embora nos tempos que correm existem pessoas angustiadas em tudo quanto é canto, a começar pelo PSDB e pela família do cavernícola.


Mas obviamente existe preocupação. Como não ficar preocupado em tempos de Trump, Bibi, Musk, Milei e outros cavernícolas, inclusive os que usam verde e amarelo.


Mas não se trata de uma “encruzilhada da esquerda”. Se trata de uma encruzilhada da humanidade. Por isso, não são tempos festivos para ninguém que tenha consciência acerca dos imensos problemas que ameaçam nossa sobrevivência coletiva. Que Felício destaque apenas o PT é um reconhecimento involuntário de nossa importância nesta luta existencial.


Nesse sentido, com o perdão do “plágio”, no Brasil não existe “peça de reposição” capaz de substituir o PT.


Também por isso, vida longa ao

Partido dos Trabalhadores. E das trabalhadoras.


 

SEGUE O TEXTO COMENTADO

 

O PT chega envelhecido aos 45 anos

Partido tem dificuldades para renovar quadros e discurso

Por César Felício — Brasília

 

A média de idade dos deputados

federais no Brasil em 2022, data da

eleição, era 49 anos. É

consideravelmente maior que a do

atual presidente da Câmara , Hugo

Motta (Republicanos-PB), 35 anos hoje,

33 quando saiu das urnas. Mas é bem

menor que a média de idade dos

deputados do PT, um pouco menor que 56 anos. A bancada federal

petista é aproximadamente uma geração mais velha do que o

parlamentar paraibano.

 

O ano padrão de nascimento dos seus integrantes oscila entre 1966 e

1967, época em que estavam sendo constituídos a Arena e o MDB,

partidos do regime militar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda

não fazia parte da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São

Bernardo do Campo . Em sua maioria, os deputados petistas eram

adolescentes em 10 de fevereiro de 1980, quando, em uma reunião no

Colégio Sion, em São Paulo, foi fundado o PT, há exatos 45 anos.

 

O PT já foi retrato da renovação política no Brasil em suas primeiras

décadas, mas desde a ascensão de Lula à presidência em 2002 passa por um acentuado envelhecimento de suas lideranças, o que sinaliza

para problemas de renovação.

 

Naquela eleição de 2002, a média de idade dos deputados federais

eleitos pelo PT era de 47 anos. A cada eleição essa idade média deu um

salto, até chegar a 57 anos em 2018, recuando um ano agora. Não há

informações completa no site da Câmara sobre a data de nascimento

dos parlamentares antes de 2002, mas a média etária da diminuta

bancada de oito petistas eleita em 1982 era de 38 anos.

 

Esse PT de cabeça branca enfrenta o dilema de entrar na disputa

nacional em 2026 sem nenhuma alternativa minimamente competitiva

para substituir Lula, caso o presidente não queira concorrer pela oitava

vez em uma eleição presidencial. Em 2018 Lula se candidatou, mesmo

inelegível, e foi substituido três semanas antes da disputa pelo atual

ministro da Fazenda Fernando Haddad.

 

A reeleição de Lula em 2026 está longe de ser um cenário improvável, a

julgar pelas últimas pesquisas. Mas falta ao PT opções para o longo

prazo. Há quem especule com a presença de João Campos (PSB)

prefeito do Recife, na sucessão presidencial de 2030, ou do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em 2034. Essa é uma futurologia muito difícil

de ser feita em relação ao PT. Não se vê peças de reposição.

 

O partido que celebra seu aniversário no fim do mês em um evento no

Rio de Janeiro cresceu lentamente, teve seu auge entre 2002 e 2012. Há

23 anos foi a legenda mais votada para a Câmara, com um

desempenho bastante semelhante ao do PL nas últimas eleições.

 

Em 2012 conquistou seu número máximo de prefeitos.

 

A descida ao vale sombrio se deu entre 2016 e 2020, na esteira da LavaJato e do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, que

deixaram duas cicatrizes inapágaveis na sigla: corrupção e má gestão

na economia. O partido se reergueu em 2022 quando a maior parte do

eleitorado brasileiro preferiu se voltar em direção ao passado do que

encarar um futuro com a extrema-direita no comando.

 

A “União e Reconstrução” do governo Lula era e é o que pode ser

apresentado, face à dificuldade do PT de pautar a agenda nacional.

Essa é uma dificuldade que se torna naturalmente maior quando se é o

partido de um presidente que governa em minoria no Congresso. Lula

depende da antiga base governista de Bolsonaro para ir tocando o barco. Sem entrar no mérito das propostas, as formulações recentes

que chamaram a atenção da opinião pública vindas da esquerda

partiram do pequeno Psol.

 

Qual foi a bandeira do PT nos últimos dois anos para tentar ampliar o

eleitorado? E aliás qual é exatamente a estratégia? romper a

polarização, fazendo acenos ao Centro? Encarar a polarização como

inevitável e apostar no antagonismo com a Direita? Não está claro.

 

O PT nasceu em 1980 da força do sindicalismo, do catolicismo rural e

da intelectualidade que chegou a pegar em armas contra o regime

militar. Há um relativo consenso, muitas vezes verbalizado por Lula, de

que estes três veios não correm mais nos dias de hoje. De que corrente

nacional poderá vir o novo petista é outra pergunta em aberto.

 

A angústia petista torna-se mais expressiva porque a encruzilhada da

esquerda não é um fenômeno puramente brasileiro, como procuram

provar cotidianamente Elon Musk e Donald Trump. O avanço da direita

deve dar um novo salto ainda este mês, com as eleições na Alemanha.

O Canadá deve dar a sua guinada no fim do ano. A Argentina

consolidar sua conversão em outubro. Os tempos não são de festa

para o PT.

 

 

Migalhas cotidianas


O que aprendemos no dia-a-dia se perde na correria do tempo. Assim, ficam alguns registros.

Segunda, 10 de fevereiro, aniversário do PT. Em resposta ao card "ainda estamos aqui na luta pelo socialismo", alguém responde: "Entendo você, mas não sei se é o caminho, abordar dessa forma? Socialismo está estigmatizado. Talvez algo como: Na luta por uma social democracia. Ou Por uma sociedade equilibrada". Sem falar do comunista-comunista-para-caralho que "passa para avisar" que o PT, na opinião dele, "não é socialista".

Domingo, 9 de fevereiro, converso com um jornalista que me convidou para dar uma entrevista e que divulgou a referida usando um card que associa minha foto com uma frase que não é minha. O cidadão diz que "a frase seria sua se ela estivesse entre aspas. Isso é básico no jornalismo". Eu contesto que o público que verá o card não é composto por jornalistas e que, ao ver uma foto minha, acompanhada de um traço que sai da minha boca e termina com uma frase, vai achar que a frase é minha. Ou aceito o card que me imputa uma dúvida que não é minha ou a entrevista seria cancelada: "basta não aceitar, camarada". Não aceitei, entrevista cancelada.

Sábado, 8 de fevereiro, leio no instagram de um camarada comunista a seguinte frase: a "principal matriz" de seu partido é "a defesa da soberania nacional". Outra frase: "então quando eu quero criar o capitalismo brasileiro na verdade eu quero é a base material para um salto de qualidade e civilizatório". É impressionante a força da Declaração de Março de 1958, até mesmo na organização que surgiu lutando contra ela.

Sexta 7 de fevereiro, leio em um interessante material publicado por um sindicato, uma série de frases ditas por lideranças da luta contra o racismo. No meio delas, um Gilberto Freyre fora do lugar e o Zumbi dos Palmares, totalmente no lugar certo, restando saber  se a frase citada como dele foi captada pelos personagens do Túnel do Tempo ou do Ministério do Tempo

Quinta 6 de fevereiro recebo a seguinte mensagem: "Muita repetição contextual. O texto poderia ser bem menor, exato, expedito. Lembro ao camarada que ninguém tem mais paciência de ler, de se instruir pra se desenvolver. Hoje escrevemos para idiotas de plantão, não para camaradas de verdade!". Como se vê, tem gente que é de esquerda, mas lembra William Bonner acerca de Homer Simpson.

Quarta, 5 de fevereiro, pensando na frase "o Brasil é dos brasileiros", lembrei de um livro intitulado: "Nenhum homem é estrangeiro". Certas variantes da retórica nacionalista, sem tempero internacionalista, pode jogar água noutros moinhos.


domingo, 9 de fevereiro de 2025

Sokol, Edinho e o amor

Que tempos vivemos!

Escrevi um texto comentando a posição de um líder da CNB.

E quem saiu em sua defesa?

O companheiro Sokol, que fez questão de referir-se ao “metalúrgico Edinho”.

Reproduzo ao final a integra do texto de Sokol, que também pode ser lido aqui: 

O que provocou a reação de Sokol?

Segundo ele mesmo, a seguinte frase do meu texto: 

“São Paulo é hoje o centro da classe dominante, o centro da “reação”, como se dizia antigamente. E isto não é de agora. Basta lembrar da contrarrevolução de 1932”.

Para provar que estou errado sobre hoje (2025), Sokol cita eventos ocorridos entre 1917 e 1993.

O que estes eventos citados por Sokol demonstram? Que em SP sempre houve luta, resistência, combate. Mas isso não altera o fato: São Paulo é hoje o “centro da reação”.

Para dar um exemplo: os Estados Unidos são o “centro” do imperialismo. Mas isto não impediu e não impede que sempre tenha havido luta e resistência, por parte da classe trabalhadora e da esquerda dos EUA.

Repetindo o que escrevi no texto criticado por Sokol, “o grande problema do Brasil é a hegemonia desta classe dominante, cujo “centro”, cuja seção estadual principal, está em São Paulo (segundo alguns, na Faria Lima).  Neste sentido, São Paulo é o grande “problema regional” do Brasil. E (…) em São Paulo, onde a CNB (“unificada”) dispõe de ampla maioria na direção do Partido, não estamos conseguindo enfrentar adequadamente a classe dominante”.

Portanto, mesmo que minha apreciação histórica sobre São Paulo fosse 100% falsa, ainda assim continuaria sendo necessário debater a situação e as derrotas do PT em São Paulo.

Pois se a classe trabalhadora não conseguir derrotar a classe dominante aqui, será muito mais difícil impor-lhe uma derrota em todo o Brasil.

Sokol, infelizmente, não fala nada sobre isso; pelo visto, prefere polemizar comigo do que polemizar com o “metalúrgico Edinho”.

O que prova que, como escreveu Sokol, existe amor em SP. E também em O Trabalho…

Segue o texto de Sokol:


Ontem, circulou nas redes do PT um post do companheiro Valter Pomar (pode ser lido aqui)

Tentando tirar uma casquinha da crise “presidencial” da CNB – Nordeste X São Paulo – Valter afirma, notadamente, que “São Paulo é hoje o centro da classe dominante, o centro da “reação”, como se dizia antigamente. E isto não é de agora. Basta lembrar da contrarrevolução de 1932”.

Não corresponde.

Meu hábito não é polemizar nas redes mas, nesse caso, calar seria assentir com uma versão da história.

Caracterizando “São Paulo, centro da reação, basta lembrar 1932”, ignoraríamos:

  • a primeira Greve Geral no Brasil, em 1917, introduzindo a classe trabalhadora independente na cena nacional;
  • a revolta paulista de 1924, tenentista, que originou em 1925/27 a coluna Miguel Costa-Prestes (nesta ordem);
  • o comício gigante dos 100 mil do PCB no Pacaembu em 1945, onde, apesar do seu “queremismo” (“queremos Getúlio”), a massa proletária em peso sinalizou o fim da ditadura de varguista;
  • a histórica Greve dos 100 mil em São Paulo, em 1953, várias categorias imposta pelos operários aos dirigentes sindicais pelegos e outros;
  • a primeira grande manifestação pública contra a ditadura nos anos 70 (em 1975), o culto ecumênico por ocasião do assassinato no DOI-CODI de Vladimir Herzog, que ocupou a Praça da Sé;
  • o ascenso de massas pelas Diretas-Já, deflagrado pelo PT em novembro de 1983 no Pacaembu, até o auge, mais amplo e unitário, no Anhangabaú e na Sé, em fevereiro /abril de 1984;
  • as grandes greves metalúrgicas do ABC de 1978-1980 que derrotaram o regime militar e originaram o impulso que levou à fundação do PT e da CUT;
  • a Greve Geral da CUT (“Paulínia, ABC, estamos com você”) de 1993, com grande impacto nacional, que firmou a central recém-criada.

Esse recordatório, certamente incompleto, não pretende apagar as lutas de séculos dos oprimidos e explorados, até mais importantes, que não é o caso de enumerar. Elas se entrelaçam na busca da emancipação da nação.

Talvez meu amigo Valter tenha sido influenciado por uma narrativa sociológica, evito aqui qualificar a matriz ideológica ou o seu extrato social, que acredito ser a expressão do medo da independência da classe trabalhadora que a burguesia, primeiro, e o imperialismo, depois, fizeram concentrar em SP. São Paulo, há mais de um século, concentra a luta de classes, é a cidade mais rica e mais desigual do país.

Lembremos no momento fundacional do PT, a recusa do “partido de macacão” por FHC, paulista, à época “príncipe dos sociólogos”.

Concluindo, a retificação é necessária, e não apenas para o bravo PT do Nordeste não cair nessa. Também não peço, necessariamente, o acordo do metalúrgico Edinho, com esta interpretação.

Mas reivindico, com os trotskistas da 4ª Internacional de Fúlvio Abramo – uma das componentes da fundação do PT, Fúlvio inclusive -, a autoridade da formação da Frente Única Antifascista composta de organizações sindicais, políticas e culturais que, em 1934, expulsou à bala os “galinhas verdes” (integralistas) da Praça da Sé, de novo na maldita São Paulo.

Há amor em SP.


sábado, 8 de fevereiro de 2025

Edinho e o “destino manifesto” de São Paulo




Dois amigos me enviaram o vídeo acima, contendo um trecho de um discurso feito pelo companheiro Edinho, um dos pré-pré-candidatos à presidência nacional do PT.

Nesse trecho, Edinho diz que toda organização tem um centro; que o centro do PT seria a tendência Construindo um Novo Brasil (CNB); e que na CNB o centro é a seção de São Paulo.

Tudo parece mais ou menos condizente com os fatos, gostemos ou não.

Mas cabe perguntar é: as coisas estão indo bem? Se estão, não há porque mudar. Se não estão, o melhor que podemos fazer é mudar: mudar a linha política, mudar o funcionamento e, inclusive, mudar o tal “centro”.

No trecho que me enviaram, a preocupação de Edinho é debater outro assunto: as críticas feitas contra o hegemonismo da seção paulista da CNB.

Edinho responde às críticas contra “São Paulo” (leia-se, contra a seção paulista da tendência CNB), lembrando que nosso Partido é nacional.

E é mesmo! 

Mas, curiosamente, na hora de defender os “direitos” de São Paulo (leia-se, o espaço da seção paulista da CNB), Edinho meio que esquece o argumento nacional e destaca a importância regional de São Paulo, como se pode constatar no vídeo.

Não sou da CNB e, na briga entre eles, nesse momento torço pela briga. Mas não posso deixar de dizer que o argumento de Edinho acerca de São Paulo é equivocado.

Afinal, “São Paulo” é hoje o centro da classe dominante, o centro da “reação”, como se dizia antigamente. E isto não é de agora. Basta lembrar da contrarrevolução de 1932.

O grande problema do Brasil é a hegemonia desta classe dominante, cujo “centro”, cuja seção estadual principal, está em São Paulo (segundo alguns, na Faria Lima).  Neste sentido, São Paulo é o grande “problema regional” do Brasil.
 
E um de nossos grandes problemas, como Partido, é que em São Paulo, onde a CNB (“unificada”) dispõe de ampla maioria na direção do Partido, não estamos conseguindo enfrentar adequadamente a classe dominante.

Infelizmente, ao menos no trecho que me enviaram, Edinho não reflete sobre isso.

E sem uma reflexão sobre o fracasso da politica implementada em São Paulo, qual seria então o argumento para defender a hegemonia da seção paulista da CNB sobre toda a CNB e, a partir disto, sobre todo o Partido?

Resta só, como "argumento", o destino manifesto versão bandeirante: “non ducor, duco”!

Como não sou da CNB, não faço ideia do apoio que este tipo de argumento alcança na base da referida tendência.

Mas como a direção do Partido e seu presidente são eleitos, não nomeados, caberá à base do Partido decidir, a partir do debate político, quem será nosso “centro” de 2025 em diante.

Espero que no debate a maioria do Partido, inclusive a maioria da CNB, decida que precisamos mudar. E mudar rápido!!





quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

O Partido e a luta “interna” na CNB

Folha de S. Paulo teve acesso e publicou uma troca de mensagens entre parlamentares da tendência petista intitulada Construindo um Novo Brasil.

Reproduzo ao final a referida matéria da Folha.

Com base na troca de mensagens, a Folha concluiu que seguem existindo divergências acerca de quem a CNB apresentará como candidato à presidência do Partido.

De fato, as divergências não só existem como devem ser enormes. 

Pois só isso explica que alguém “entregue” à grande imprensa o inteiro teor de uma troca de mensagens num grupo privado de zap.

Registre-se, aliás, que o mesmo já ocorreu com o grupo de zap do Diretório Nacional do PT. 

Se os “vazadores” são os mesmos, só a Meta, a Folha e a NSA saberão dizer.

Num primeiro momento, quem não pertence a CNB pode até achar conveniente e/ou engraçada este tipo de situação.

Alegria do palhaço, dizem, é ver o circo pegar fogo.

Mas, pensando bem, este episódio é profundamente constrangedor, deprimente e revelador.

Afinal, esta fração parlamentar representa grande parte dos que controlam a CNB, que por sua vez é atualmente o grupo majoritário - maioria relativa - no Diretório Nacional do Partido.

Ademais, a polêmica que foi vazada, em torno da qual tantas fogueiras parecem acesas, não diz respeito a nenhuma divergência de mérito acerca do que realmente importa: a estratégia, o programa, a tática e o funcionamento do Partido.

Certamente alguma divergência de mérito existe. Mas se levarmos em conta o recente debate no DN acerca do “ajuste fiscal”, bem como o documento apresentado pela CNB no dia 7/12/2024, existe nesta tendência uma grande unidade política.

Aliás, se isto não fosse verdade, quero crer que as muitas partes da CNB já estariam divorciadas de papel passado e morando em casas separadas.

Mas se for verdade que na CNB existe mesmo “unidade no fundamental”, então o que estamos assistindo - neste episódio do grupo de zap e em inúmeros outros - é uma polêmica brutal em torno de como se fará a distribuição, entre os próceres da CNB, das “fatias” do poder partidário.

Em tese isto - brigar pela repartição dos ovos antes da poda- deveria ser um problema “interno” da CNB. 

Acontece que o conflito na CNB está afetando todo o Partido. Não porque é eventualmente “vazado”, mas porque afeta a implementação da política e nosso funcionamento organizativo. 

Está afetando, inclusive, a aprovação do regulamento das eleições diretas.

Este regulamento deveria ter sido aprovado em 7/12/2024 e hoje (5/2) se prometeu que será aprovado em 17/2/2025.

O conflito na CNB será resolvido? 

Dada a natureza do conflito - disputa de espaços, espaços que tendem a ficar mais reduzidos, por razões internas e principalmente externas- acho pouco provável que haja uma resolução verdadeira.

Por isso, não importa muito o que venham a decidir sobre a candidatura de Edinho, assim como deste ponto de vista não importa muito o resultado do PED: a luta sem quartel na CNB vai continuar, em prejuízo do bom funcionamento do PT.

Importante dizer que nesta avaliação não está em discussão o valor individual de cada um dos integrantes da CNB, a imensa maioria dos quais merece todo respeito e que são simplesmente insubstituíveis como militantes do nosso Partido.

Mas o que precisa ser discutido é se a CNB, enquanto grupo organizado com tamanha cota de poder interno, não teria se convertido em um obstáculo para as urgentes mudanças que nosso Partido deve fazer, se quiser não apenas sobreviver como legenda, mas sim contribuir para a transformação profunda do nosso país.

No passado, a gloriosa Articulação dos 113 se levantou contra os “partidos dentro do partido”.

Hoje, na minha opinião, a CNB virou isso. Um partido dentro do Partido. Cuja luta “interna” vem não apenas criando dificuldades para o funcionamento do Partido, como desviando a nossa atenção daquilo que realmente importa: o debate sobre a grande política.

Espero que o PED resolva parte deste problema. E espero que parte importante da CNB nos ajude nisso.


Segue abaixo a tal matéria da Folha.

Troca de mensagens mostra resistência a preferido de Lula para comando do PT

Em grupo de WhatsApp, deputados petistas chamam de precipitado jantar com Edinho Silva_ 5.fev.2025 às 13h00 Catia Seabra 
(https://www1.folha.uol.com.br/autores/catia-seabra.shtml) 

 BRASÍLIA Preferido do Palácio do Planalto para assumir a presidência do PT, o ex-prefeito Edinho Silva enfrenta resistências dentro da ala do próprio presidente Lula (PT) no partido, a CNB (Construindo um Novo Brasil). A perspectiva de mudança na cúpula partidária tem fomentado a oposição dos ocupantes da atual direção ao nome de Edinho. A CNB ameaça se rebelar contra seu maior líder, procurando opções ao seu indicado. Entre aliados de Lula, a aposta era que essa resistência viesse a arrefecer depois que o presidente informou a petistas a intenção de nomear a atual presidente da sigla, a deputada federal pelo Paraná Gleisi Hoffmann, para o comando da Secretaria-Geral da Presidência. Gleisi vinha defendendo um nome do Nordeste para sua sucessão no PT. Com ela fora do cargo, a articulação de alternativas a Edinho poderia ser reduzida, nos cálculos do governo. Não foi o que aconteceu. Apoiadores do ex-prefeito de Araraquara tiveram uma amostra disso na noite de segunda-feira (3), quando um convite para um jantar com Edinho recebeu críticas no grupo de WhatsApp dos deputados que integram a corrente majoritária do PT. O encontro acabou cancelado. Coordenador da bancada da CNB, o primeiro-secretário da Câmara, Carlos Veras (PE), publicou, no grupo, um convite para jantar com Edinho programado para esta quarta-feira (5) no apartamento do deputado Reginaldo Lopes (MG). Líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE) foi um dos que reagiram ao convite sem prévio debate sobre a disputa. Ele chamou a iniciativa de precipitada, um caminho para a divisão interna. Guimarães também lembrou que a esperada nomeação de Gleisi para a Secretaria-Geral da Presidência ainda nem sequer foi formalizada e tampouco se sabe quem a substituirá para conduzir a eleição. "Não podemos atropelar os ritos. Muitas vezes quem anda rápido come cru", disse. O secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto (SP), ressaltou o fato de o convite para o jantar fazer menção a "alguns deputados" entre os convidados. Tatto disse que era equivocada uma reunião com apenas alguns parlamentares. Afirmou também que seria um caminho para um racha partidário. "Veras, você, como ainda coordenador da bancada CNB, não pode se prestar a isso. CNB sempre se preocupou com o consenso progressivo. Isso não ajuda. É um desrespeito à presidente Gleisi e a toda a coordenação", protestou. Veras se justificou, afirmando que um "portador de convite não merece pancada". À Folha o deputado afirmou que "seria um encontro nada formal com um companheiro do partido". Segundo ele, o encontro foi adiado em virtude da coincidência de data com um jantar que reunirá líderes do campo democrático, também programado para esta quarta. "Não temos nenhum processo ainda aberto para sucessão do partido até porque temos um respeito muito grande pela presidenta Gleisi Hoffmann, condutora do processo de sucessão. Se tem alguma coisa que a gente preza no PT é conversar", afirmou. Outro aliado de Edinho afirmou que o adiamento se deu para ampliar a participação de deputados que poderão vir a apoiá-lo. O futuro presidente do PT conduzirá a costura de alianças para as eleições presidenciais de 2026. O perfil de Edinho tem sido defendido por sua postura conciliadora, já que tem defendido a ampliação do diálogo ao centro e o fim da polarização. À frente do PT, Edinho poderá buscar um alinhamento do partido à política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele é apontado como um dos apoiadores de Haddad dentro do partido. Sob a presidência de Gleisi, o PT aprovou documentos críticos à política econômica, classificada até de "austericídio". Aliados de Lula avaliam que a provável entrada dela no governo é uma aposta para estimular a base social do partido e pode até amenizar as tensões com Haddad.