segunda-feira, 23 de junho de 2014

Quem chamou a besta para esta discussão?

Na polêmica com Mauro Iasi e com outros porta-vozes da oposição de esquerda, escolhi não priorizar a demonstração de que uma eventual derrota de Dilma nas eleições presidenciais de 2014 resultaria em imensos danos para a classe trabalhadora e para toda a esquerda brasileira.
No lugar disso, priorizei tentar demonstrar que nossos inimigos de classe querem derrotar o PT e impedir a reeleição de Dilma.
O motivo desta escolha: a maior parte da oposição de esquerda parece tão focada nos digamos “defeitos” (reais ou não) do governo Dilma, que não considera adequadamente as ações do nosso inimigo de classe.
Por conta disto, esta parcela da oposição de esquerda acaba se convertendo em linha auxiliar da oposição de direita.
É necessário lançar luz sobre as opções do imperialismo, do grande capital, dos setores médios (ver PS1), da direita e do oligopólio da mídia, para enfrentar o principal limite teórico do esquerdismo e também da direita do PT: não fazer análise concreta da situação concreta.
Estes limites ficam evidentes nos dois textos de Jones Makaveli (ver PS2).
Exemplo: Makaveli reconhece que o governo do PT as vezes [se coloca] contra a política externa do EUA, mas não reflete sobre o que o imperialismo anda fazendo, pelo mundo afora, com governos que “as vezes” se colocam contra a política externo dos EUA.
No geral, Makaveli insiste em “provar” algo que não está em discussão, a saber: que o governo Lula antes e o governo Dilma agora adotaram medidas que, em maior ou menor medida, beneficiaram setores do Capital.
Mas, em ambos textos, o autor não diz nada que desminta minha tese sobre o que está em discussão, a saber: nossos inimigos de classe querem derrotar o governo Dilma e o PT!!
Aliás, lendo seus dois textos, confirma-se que Jonas Makaveli pensa de maneira similar a um setor da direita do PT.
Este setor apoia todo tipo de concessão e tem a expectativa de que o Capital vai corresponder. Já Makaveli acha que, devido às concessões feitas pelo governo Lula/Dilma, o Capital efetivamente corresponde.
Acontece que nos dois textos citados (para não falar da realidade), não se encontra um único argumento que comprove esta correspondência (ver PS3).
Pelo contrário, o próprio Makaveli diz que: desde 2008 o número de greves não para de crescer, os protestos de rua são cada vez mais frequentes e o clima de insatisfação política é ascendente. Nessa situação é mais que normal que parte das classes empresariais e quadros da direita procurem articular alternativas ao PT. O PT é gestor da ordem. Enquanto tal só será “amado” pela burguesia enquanto sua gestão for bem. Ela parece ir cada vez pior.
Quem se der ao trabalho de desenvolver esta linha de raciocínio vai acabar chegando, ainda que por um caminho torto, à conclusão de que estamos numa conjuntura em que o grande Capital está em rota de colisão com o PT e com o governo Dilma.
Se isto é verdade, repito a pergunta: num segundo turno das eleições presidenciais de 2014, numa disputa entre Dilma (ver PS4) e a candidatura da direita, a "oposição de esquerda" fará o quê?
Makaveli dá meia resposta para esta pergunta, quando afirma ser falso afirmar que teríamos um retrocesso caso o PT perca as eleições presidenciais.
Makaveli também afirma que num eventual segundo turno entre PT e PSDB teremos uma disputa entre dois projetos políticos de direita pró-capital e antipopular; com diferenças pontuais. A grande questão é saber quem será o mais agressivo contra as forças populares.
Esta linha de argumentação, salvo engano, conduz ao voto em branco, ao voto nulo, ao tanto faz como tanto fez. Aliás, já sabemos o que fizeram Heloísa Helena e Plínio de Arruda Sampaio, no segundo turno das eleições presidenciais de 2006 e 2010, respectivamente.
Acontece que agora estamos num momento de ofensiva da direita. Talvez por isto Makaveli, embora garanta que as “diferenças” entre PT e PSDB são “pontuais”, fique o tempo todo falando da direita apocalíptica e da besta do sétimo livro.  
Que fique registrado: quem trouxe a besta apocalíptica para esta discussão não fui eu. Minhas figuras de linguagem aprendi noutros livros.

Valter Pomar

PS1. Também para que não me acusem de omissão: é óbvio que eu não estou “imputando conservadorismo aos setores médios em bloco”. Da mesma forma, não acho que 100% do grande Capital esteja contra o PT, como também não acho que 100% da direita está contra o PT, como também não acho que 100% da oposição de esquerda esteja perdida.

PS2. O primeiro texto de Makaveli: http://www.diarioliberdade.org/brasil/batalha-de-ideias/49358-sobre-a-lenda-de-que-a-classe-dominante-e-o-imperialismo-s%C3%A3o-oposi%C3%A7%C3%A3o-ao-pt.html E o segundo texto: http://makaveliteorizando.blogspot.com.br/2014/06/debatecom-valter-pomar-minha-treplica.html

PS3. Para que não me acusem de “omissão”, simplesmente não procede a tese segundo a qual o PT recebe mais doações do que os outros partidos, logo ele é o partido preferido do Capital. Não procede por uma razão bem simples: as doações feitas pelo grande Capital aos seus partidos e candidaturas não são apenas as registradas oficialmente. Isto sem falar de outros mecanismos pelos quais o grande capital apoia seus partidos e candidaturas.

PS4. Igualmente para que não me acusem de omissão: devemos votar em Dilma porque estamos melhor hoje do que estávamos sob os governos neoliberais, estamos melhor do que estaríamos se Serra ou Alckmin tivessem vencido as últimas eleições, e também porque a classe trabalhadora terá melhores condições para avançar sob um governo Dilma do que sob um governo Aécio ou Campos.


8 comentários:

  1. Opa, gostei, começou a chamar de besta! Ou é Dilma ou o fascismo, né Pomar. Mas o fascismo vcs tratam com pão de ló, divide o estado com vcs, é o PSDB. Já para oposição de esquerda, Lei de Segurança Nacional! Me explique isso, então!

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    1. Prezado, a frase "ou é Dilma ou o fascismo" é de sua autoria, não minha. Sobre a LSN, não sei do que voce está falando. O PSDB é nosso inimigo. Por fim, os governos do PT precisam ser duros com a direita fascista, com o oligopólio da mídia etc.

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  2. Vamos ao centro, por exemplo, um dos maiores intelectuais marxistas, o José Paulo Netto, do PCB, defendeu publicamente voto em Dilma no segundo turno, então, vejo muita ingenuidade na base, muita reprodução de pensamento e reducionismo, tipico das influências stalinistas da falta de criatividade no pensamento.

    Vide: http://www.youtube.com/watch?v=wGDnqWeck0A

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    1. kkk, sobre LSN, não sabe sobre o que estou falando? Procure no gugol, Orientação! Shellen, José Paulo Netto é trotsquista e já foi do PPS. Eu li dele O Que é o Stalinismo e vi isso q vc diz: ingenuidade, reprodução de pensamento e reducionismo. Ou picaretagem propriamente dita. Ele escreve um livro sobre Stálin sem consultar nem um livro dele.

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    2. Prezado, saia do universo paralelo e venha para o nosso. Deste lado, José Paulo Neto é um militante comunista histórico. Do seu lado, é trotsquista. Aliás, no nosso lado, qual é a sua graça?

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    3. Leia lá no meu blog, Orientação. Veja tb esse texto: vou dar um pouco de orientação à orientação. vhttp://comunidadestalin.blogspot.com.br/2011/12/o-que-e-o-stalinismo.html

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  3. Shellen, CHAMEMOS O BOICOTE, FORA TODOS, ABAIXO A FARSA ELEITORAL, VOTE NULO!!!!

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    1. Prezado, no debate prezo pelo respeito, não fiz deboche. Primeiro, pouco me importa se o Zé é ou não trostquista, isso não reduz sua imagem pública e sua ampla contribuição a história das ideias nesse país. Já li esse livro que você citou, um livrinho bom, um Bê a bá, para iniciante, mas válido. Sugiro que você leia, sobre Blanqui, das conspirações de 30, já que você está assim tão radical. Mas, se quiseres mesmo ir para o debate, leia outros livros, vá além do dogmatismo e da visão de mundo, vá além, faça o que Marx, Gramsci, Lenin e tantos revolucionários fizeram. ódio de teclado não muda o país, tão pouco tem força de argumentação com a humanidade, pois essa, em ser genérico, é a a medida da teoria e a ação né? Né por isso que estamos aqui? ou estamos brincando de ser revoltado? Abraços!

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